sexta-feira, 6 de novembro de 2009

SAPOS (Dionísio)



SAPOS (Dionísio)


Os sapos - que nada têm a ver, mas que coligadamente podem ter tido tudo a ver com e contra o sapo barbudo da lagoa maior - é que cantam aqui com mais vigor. Qualquer outra categoria... nada. Os sapos - como os outros bichos entre si - são aparentemente iguais. Aparentemente. Porque, lá no fundo (ou na beirada, ou mesmo em terra firme - dada a sua anfibiedade...), há suas diferenças. Uns pertencem à elite; outros querem ascender-se a ela. A maioria queda-se apagada. Mas resmunga. Coisas da ralé...
Um sapo assume o pedaço. Acerca-se de sapos - os que assistem ao jogo sem nele tomar parte. E todos suportam coisas desagradáveis sem revidar... Por incompetência ou por conveniência.
De quatro em quatro anos - para mudar ou para continuar -, os sapos e os assemelhados ou nem tanto vão às urnas. Todos, depois de certa idade: os da elite, os ascendentes, os descendentes, os ignaros. É uma festa. Concluído o pleito - óbvio - há vencedores e vencidos. É comum os vitoriosos comemorarem. E os mais entusiasmados são os da periferia. Gritam: “Ganhamos!” E a gente com vontade de perguntar: “Ganharam o quê, caras-pálidas?!”
A menos que o vencedor-mor (antes, sapo na acepção dos que assistem ao jogo sem nele tomar parte) pertença à categoria dos ascendentes e tenha preocupações com a periferia...
Mas - óbvio - é estranho. Numa lagoa de águas meio turvas, os sapos cururus - ou jururus - lamentam a atenção dada enfaticamente às margens, que normalmente são mais sujas - bichos sujos - que provocam asco. Daí, o “vamos ver se encontramos um jeito de apontar-lhe um rabo e, com isso, tomar-lhe o poder...”
Quem caça acha. E aqui acharam! Coisa mínima, própria de emergentes. Ingenuidade! E bota ingenuidade nisso...
E o movimento “Por uma lagoa melhor” - pra eles - entra com a denúncia. A autoridade acolhe a denúncia, a elite e seus asseclas soltam os foguetes - “peraí” - a justiça se faz: não é para entregar o poder logo... Afinal, entregar a quem? Há ingenuidade do outro lado também... E bota ingenuidade nisso... É melhor aguardar outras instâncias...
Você vai estranhar: “Sapo não tem rabo!”
Mas já teve. Ninguém está isento. É só olhar pra trás. Não no espaço, mas no tempo. Todos. Também, no caso específico, um e outro.
“Oh!” - exclamam todos.
E embora ainda coaxem alguns sapos desocupados (contam-se nos dedos da mão), os dois sapos maiores - o do lado de cá e o do lado de lá - estão caladinhos e trabalhando.
Óbvio que suportando coisas desagradáveis... Mas sem revidar... Por incompetência ou por conveniência...
Enfim, desenvolvem a arte de engolir sapos...